POSSIBILIDADE DE VISUALIZAÇÃO DE ASPECTOS HELENÍSTICOS-ROMANO EM JOÃO 14 E 16

13/02/2014 12:56

POSSIBILIDADE DE VISUALIZAÇÃO DE ASPECTOS  HELENÍSTICOS-ROMANO EM JOÃO 14 E 16

                                                                            Wanderley Lima Moreira[2]

RESUMO

Entender como era o contexto do Novo Testamento é um desafio, uma vez que, o embasamento teórico para tal empreendimento é também um desafio histórico. Este artigo[3] tem por objetivo trazer novamente a discussão acerca da pergunta: como, e em quais aspectos o contexto e ambiente no século I A.D. influenciaram na construção do pensamento teológico no NT? Todo esforço será empreendido numa análise filosófica e cultural grega e a possibilidade de influência no texto de João 14 e 16. Assim, descobre-se na discussão que o Novo Testamento foi produzido tendo como pano de fundo, elementos variados. O presente trabalho científico resulta no entendimento de que o evangelho também foi influenciado e preparado por um ambiente e um contexto próprios.

PALAVRAS-CHAVE: Ambiente – Contexto – Novo Testamento – Cultura – Social

 

INTRODUÇÃO

O desafio de entender a mensagem do evangelho passa pelo fator interpretativo do texto. Desta forma, entender a teologia do Novo Testamento exige uma hermenêutica que compreenda os contextos: social, político, religioso e cultural apresentados nas escrituras e outros documentos. De fato existem diversos depoimentos históricos embasados em pesquisas realizadas por pesquisadores comprometidos em apresentar registros sóbrios e sérios tanto na área da teologia bíblica, como na pesquisa histórica. Utilizaremos autores que se destacam em suas pesquisas teológicas, como Paul Tillich, F.F. Bruce, Howard Marshall, Craig Blomberg e Eduard Lose[4], e cenário histórico Flávio Josefo, Henri Daniel-Rops[5] e John Dominic Crossan[6] para que a fundamentação teórica apresente pressupostos histórico-científicos e uma teologia protestante que abrace e respeite o texto bíblico.

 

O Evangelho foi proclamado num período da história, em determinado tempo. Para tanto, faz-se necessário o estudo do contexto e do ambiente deste período. As pessoas daquela época trabalhavam, tinham emoções, estavam sujeitas a conflitos internos e externos, comiam, estudavam, participavam de festas. Homens e mulheres, ricos e pobres, todos, sem exceção conheciam o sofrimento e a dor, o desespero e o vazio existencial intrínseco a cada ser. Logo, o esse Evangelho surgiu como resposta de Deus a um povo, sem distinção social, de gênero ou de raça.

 

O bíblista Eduard Lohse fala sobre a importância de entendermos o contexto e o ambiente do Novo Testamento para a compreensão de sua mensagem:

 

[...] Quanto mais exatamente conhecermos o ambiente em que o anúncio cristão encontrou os homens e o modo como o Evangelho foi entendido e transmitido, melhor conseguiremos traduzir o conteúdo desta mensagem, o modo de falar e as idéias do mundo antigo para a linguagem do nosso tempo. (LOHSE, 2000, p.6)

 

  1. FILOSOFIA E FÉ NO MUNDO NEO-TESTAMENTÁRIO

 

O Novo Testamento tem em sua teologia um elemento de extrema importância: ao vir ao mundo salvar a humanidade, Jesus Cristo encontrou um momento totalmente favorável a tal empreendimento. Houve de fato, uma preparação no campo cultural, político e social para que a vinda do Messias acontecesse de forma tal que, o evangelho causasse um impacto na vida das pessoas.

 

Verificamos a importância desta preparação nas palavras de Paul Tillich em sua obra História do Pensamento Cristão, para ele:

 

A vinda de Jesus deu-se num momento especial da história em que tudo estava preparado. Paulo fala  de kairós para descrever o sentimento de que o tempo estava pronto. O cristianismo primitivo não foi influenciado tanto pela filosofia clássica, mas pelo pensamento helênico. Os céticos duvidavam de todas as formulações das escolas de filosofia. Esse movimento significava o desabamento de todas as convicções. Por isso os Céticos retiraram-se para o deserto vestidos de uma simples túnica ou manto. O ceticismo foi um dos importantes elementos para a preparação do cristianismo. Quando surgiu o movimento cético, procuravam acima de tudo a certeza; queriam-na para poder viver. A razão pura não era capaz de construir a realidade na qual se pudesse viver. (TILLICH, 2007, p.24)

 

Dentro do ambiente helenístico-romano a língua e os costumes romanos exerceram forte influencia no campo da política. O império romano teve dificuldades para impor sua cultura, uma vez que, permitir uma aculturação fazia emergir o elemento pacificador em seus domínios.  Desta forma, a preservação da herança recebida dos gregos - uma vez que os romanos se tornaram sucessores dos gregos – fortalecia o domínio romano e a manutenção do reino. Essa aculturação foi, não apenas permitida, mas fortalecida e difundida dentro dos limites romanos.

 

A palestina era ocupada pelos romanos, pois estes “dominavam o país no pleno sentido da palavra” (DANIEL-ROPS, 2008, p.65). É neste contexto que nasce Jesus (Lc 2.1,2), num mundo helenizado e dominado pelo Império Romano.

 

Dentro do conceito platônico de Estado, o individuo daquela época estava dividido entre a fé judaica em que, Deus é um  e somente ele deveria ser adorado (Dt 6.4) e a submissão ao Império Romano. Para Flávio Josefo[7], “algumas nações confiaram o supremo poder político às monarquias, outras às oligarquias, e ainda outras ao povo” (JOSEFO, 2004, p. 1126). Assim, “para o crente judeu, Javé reinava soberano; e ele governava através de seus representantes na terra, principalmente o Sinédrio e o sumo sacerdote” (DANIEL-ROPS, 2008, p. 67), sendo que, o Sinédrio era o senado constituído, uma comissão permanente, que tinha sua sede em Jerusalém com o número de setenta mais um. Esta assembléia representava as famílias importantes[8] mais a classe sacerdotal. Logo, é possível perceber, que, até mesmo essa maneira de divinizar o Sinédrio tem seu berço na política romana.

 

Apresentamos de forma elementar como era este ambiente, formatado num contexto em a aculturação helênica vai influenciar a fé, ainda que seja para prepará-lo – ambiente e contexto – a fim de que a mensagem atinja o objetivo esperado: proclamar as boas novas de salvação.

 

  1. INFLUÊNCIAS GRECO-ROMANAS E A FORMATAÇÃO DA FÉ

 

A pesquisa histórica revela que a população da Palestina era em sua maioria de origem judaica (DANEIL-ROPS, 2009, p.134), porém não podemos deixar de observar -  e isto fica muito claro principalmente no evangelho de João – que a cultura grega influenciou em muito os costumes, a comunicação e a religião do povo. Raymond Brown em sua introdução ao Novo Testamento diz que:

 

[...] Na Palestina mesmo em áreas onde a maioria das pessoas era judia, havia forte influencia helênica, mas não difundida de maneira uniforme. Cidades profundamente Greco romanas na Galiléia, por exemplo, podiam estar rodeadas de povoados cujos habitantes mostravam pouco entusiasmo pelo pensamento e pela práxis gentia, e de outras aldeias cujo comercio as levava a um contato mais aproximado com o helenismo. Similarmente, nas cidades cosmopolitas da diáspora, os judeus não eram unânimes em relação às instituições e à cultura helênicas, tendo atitudes que iam da participação entusiástica e aculturação à rejeição isolatória. (BROWN, 2004, p. 141-142)

Porém, ainda que nem toda o povo estava aberto a cultura helênico-romana, há no Novo Testamento aspectos de que parecem transferir elementos da cultura grega para dentro da fé e da religiosidade judaica.

 

  1. IDÉIA DE TRANSCENDÊNCIA E IMANENCIA

 

Comecemos por considerar que em João “o tema principal é a partida de Jesus”, porém de certo modo, “sua partida é necessária porque Jesus vai a frente dos discípulos para lhes preparar a futura morada” (MARSHALL, 2007, p. 438). A partir deste ponto, vamos visualizar uma preocupação da parte do Mestre em sair deste mundo, transcendendo-o para garantir aos discípulos essa mesma realidade experienciável.

 

Existe além da realidade material, “algo capaz de se sobrepor à realidade empírica”. Essa foi uma “idéia desenvolvida pela tradição platônica e serviu de preparação ao advento da teologia cristã” (TILLICH, 2007, p.28). Sendo que transcendente aqui está para aquilo que se eleva para além de um limite possível e imanência no sentido grego de Aristóteles.

 

Essas duas influencias são notadas, principalmente no evangelho de João capitulo 16[9]:

 

Agora, porém, vou para aquele que me enviou e nenhum de vós me pergunta: para onde vais? Mas porque vos disse isso, a tristeza encheu vossos corações. No entanto eu vos digo a verdade: é de vosso interesse que eu parta, pois se não for, o Paráclito não virá a vós. Mas se for, enviá-lo-ei a vós. E quando ele vier, estabelecerá a culpabilidade do mundo a respeito do pecado, da justiça e do julgamento: do pecado, por que não crêem em mim; da justiça por que vou para o Pai e não me vereis; do julgamento, por que o Príncipe deste mundo está julgado. (BIBLIA DE JERUSALÉM, 2008, p.1882)

 

Ora pode-se visualizar o elemento transcendental nas próprias palavras de Jesus, uma vez que ele, referindo-se a si mesmo como ser absoluto e (imanência) relata de uma viagem rumo a um lugar divino e em resultado desta, enviará o Paráclito[10] aos discípulos. Sabedores de que no livro de Atos esse Espírito vai descer nos discípulos por força dinâmica, chegamos a duas observações:

  • O fato de Jesus ir além dos limites até então permitidos ao homem comum é idêntico a transcendentalidade grega, onde os deuses transitavam entre dois mundos;

 

  • O envio do Espírito aos discípulos como uma forma divina que os ajudará na ausência do mestre, apresenta uma dinâmica imanente onde o ser divino vem habitar com o humano;

Essa transição - imanência/transcendência – de Jesus Cristo parece ser de certa forma entendida pelos discípulos devido ao resultado daquilo que Blomberg chama de misturas entre crenças e comportamentos, principalmente da mitologia tradicional:

 

O mundo greco-romano no tempo de Jesus Cristo apresentava um vigoroso fluxo religioso. O século I tem sido considerado como um período de “crise de consciência”[...] As misturas e combinações entre crenças e comportamentos criavam muitas vezes um pluralismo que era intolerante somente com as religiões exclusivas e fechadas, como o judaísmo ou cristianismo. (BLOMBERG, 2009, p.47-48)

 

A frase de Jesus “saí do Pai e vim ao mundo”[11] tem a mesma idéia filosófica da descida dos deuses mitológicos quando, nas epopéias gregas, desciam ao mundo para interagir com os humanos, além disso a observação feita por seus discípulos, confirma que eles entendiam essa dinâmica. Logo ao dizer: “Por isso cremos que saíste de Deus”[12] parece mostrar que os discípulos ou tinham lido ou conheciam esse tipo de imanência e por isso falam que Jesus diz “claramente, sem figuras”[13].

 

  1. DEPRAVAÇÃO HUMANA X QUEDA DA ALMA

 

No texto verifica-se a idéia de Providência, essa idéia é anterior ao texto bíblico. Não estamos afirmando que essa similaridade faz da filosofia grega um texto inspirado, mas que, podemos pensar na possibilidade de Deus, na sua soberania, utilizar-se até mesmo da aculturação. Logo, a visualização destes elementos não seria apenas mera coincidência, mas, uma preparação da parte de Deus através da cultura grega para que o evangelho chegasse ao seu objetivo.

 

Desta forma, há outro aspecto que pode ser visualizado no texto referido que surge como que trazendo uma idéia daquilo que Tillich denomina de “doutrina da queda da alma”:

 

[...] trata-se da queda da alma da eterna participação no mundo essencial ou espiritual; sua degradação terrena no corpo físico, que procura se livrar da escravidão desse corpo, para finalmente se elevar acima do mundo material. (TILLICH, 2007, p.29)

 

Esta tese poderá ser visualizada de forma mais nítida nos escritos de Paulo, porém aqui, verifica-se que o texto do quarto evangelho assim como a tradição platônica acreditava que a degradação do corpo físico exigia que o indivíduo tivesse uma experiência de união mística, os discípulos podem terão consigo “outro Paráclito” que permaneceria para sempre com eles, e por isso, visualiza-se no texto a possibilidade de uma união mística como a grega.

 

Quando Jesus Cristo diz aos discípulos “compreendereis que estou no Pai e vós em mim e eu em vós”[14], ele o diz em termos dessa união, ainda que relutamos em concordar, por ser, aparentemente uma idéia grega. Mas, não é Deus soberano para utilizar as idéias gregas com o fim de revelar a sua vontade? Pelo menos é o que podemos visualizar.

 

O fator positivo para a possível inserção do pensamento grego nos textos bíblicos é a fácil assimilação da verdade por um povo que estava dentro de uma cultura que valorizava o pensar. Desta forma até mesmo o gnosticismo poderia ter ajudado na enraizamento do cristianismo, uma vez:

 

[...] ele oferece respostas para questões importantes: de onde viemos? Aonde vamos? Como chegaremos lá? [...] muitos gnósticos pensavam que Jesus trouxera a revelação que permitiria o retorno ao mundo divino [...] (BROWN, 2004, p.163)

 

No entanto a alegação de que João foi fortemente influenciado pelo gnosticismo vai de encontro a objeção de que os dados disponíveis para um gnosticismo desenvolvido datam de um tempo posterior à composição de João, por isso, Brown defende a idéia de que “o mais provável é que a relação entre o pensamento gnóstico e João represente uma interpretação exagerada daquele evangelho” (Ibdem, p.164)

  1. GNOSTICISMO E DUALISMO JOANINO

 

Falando das narrativas teológicas do Evangelho de João, Howard Marshall propõe que “um outro fator que surge é a hostilidade do mundo aos discípulos” (MARSHALL, 2007. p.439). Esta hostilidade é resultado de uma falta de conhecimento sobre Jesus e seu Paráclito.

 

Se o capitulo quinze de João parece apresentar um dualismo típico de um aculturação greco-romana, o texto do capítulon14 diz que esse Espírito, “o mundo não pode conhecer”[15] e também não verá a Jesus mas apenas os discípulos, já que estes “não são do mundo”[16] e devem vencê-lo (João 16.33). E desta forma, essas pessoas não são do mundo porque o próprio Jesus os separou do mundo: “minha escolha os separou do mundo”[17].

 

O dualismo antropológico platônico é mais um elemento que emerge no texto. Esta forma de pensar tem seu pressuposto na origem platônica do gnosticismo. O que estamos propondo é que “o gnosticismo  teve como uma das suas fontes principais o dualismo antropológico platônico” (ROSA, 2010, p.21). Com a forte influência da filosofia helênica, a teologia do Novo Testamento passa a apresentar em sua formatação final um pensamento neoplatônico dual. A título de exemplo, como nos lembra Boff:

 

O Novo Testamento não afirma a imortalidade da alma, pensamento este defendido por Platão. O que é afirmado sobejamente nas Escrituras é a fé na ressurreição dos mortos. Já o platonismo afirma a imortalidade da alma e não reconhece a ressurreição, amplamente defendida no Novo Testamento [...] A doutrina da imortalidade da alma dos gregos foi completada com a doutrina bíblica da ressurreição dos mortos. (BOFF, 1973, p.67)

 

O que Rosa observa, a partir deste texto de Leonardo Boff é que “a mistura desses dois pensamentos (imortalidade da alma – platônica e ressurreição – cristã) deu origem à seguinte teologia: depois da morte do cristão a alma vê-se diante de Deus, goza sua presença até o fim dos tempos quando será novamente reunida ao corpo ressurreto” (ROSA, 2010, p.21).

 

O gnosticismo será o fator que vai permitir a entrada do dualismo platônico na teologia cristã, já que dentre os vários elementos presentes no gnosticismo, o dualismo platônico vai dividir o homem, conforme Champlin nos informa:

 

Platão defendia um dualismo metafísico em sua doutrina dos universais, em contraste com os particulares, visto que o universal é o elemento eterno, imutável e infinito, enquanto que o particular é a sua contraparte terrena, material e finita. (CHAMPLIN, 2009, p.239)

Para entendermos esse conceito dual neoplatônico, leiamos a explicação de José Comblin:

 

[...] afilosofia grega tende a uma concepção dualista de alma-corpo. Alma e corpo são como duas substâncias unidas mas com redes de atividades separadas. A alma luta com o corpo. A alma tem suas atividades autônomas e o corpo tende a tê-las também. O problema é a unidade. A filosofia procura explicar a unidade. (COMBLIM, 1985, p.81)

 

Seguindo o pensamento de Platão, os gnósticos desprezavam o corpo e supervalorizavam a alma. Para essa corrente, o corpo era a prisão do espírito, prisão de demônios, e desta forma, o objetivo da gnosis seria alcançar um estado de participação no divino que libertaria a alma do corpo, e finalmente unir-se com a pleroma, ou mundo espiritual.

 

Em João não há essa ideologia, porém no texto existem elementos que possibilitam a visualização deste dualismo, mesmo que não seja o neoplatônico, vejamos:

 

  1. João apresenta a possibilidade de sair deste mundo pelo menos duas vezes[18];

 

  1. João apresenta o mundo negativamente quando Jesus diz as seguintes frases:

 

  • “O Espírito da Verdade o mundo não pode acolher, por que não o vê, nem o conhece”[19]
  • “Deixo vos a paz, minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá”[20]
  • “Já não conversarei muito convosco, pois o príncipe deste mundo vem”[21]
  • “[...] o príncipe deste mundo está julgado”[22]
  • “[...] no mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo”[23]

O Evangelho de João apresenta Jesus como Messias e o Filho de Deus, que veio ao mundo dar oportunidade ao indivíduo de receber vida eterna por meio da fé em Cristo. Em seu texto pesquisado, verifica-se que ainda que não possa afirmar que o dualismo platônico esteja no texto de forma latente, podemos pelo menos, pensar na possibilidade de visualizarmos tais elementos. Esse dualismo onde há um mundo sem Deus e outro com Deus; um dualismo luz-trevas, bem-mal, conhecimento (gnosis)-sem conhecimento (agnosis) é aparentemente de fácil identificação, porém, concordamos com Howard Marshall quando afirma:

 

Ainda mais fundamental é o dualismo entre morte e vida. Tudo isso constitui uma situação em que os seres humanos precisam de redenção. João, no entanto, não reflete o gnosticismo: para ele o mundo é a criação de Deus e do Verbo. Pode-se aceitar um dualismo desse tipo sem se tornar um gnóstico. (MARSHALL, 2007, p.443)

 

Por fim, nossa tese é que até mesmo essas semelhanças, possíveis visualizações de elementos greco-romano no texto de João quatorze e dezesseis cabe dentro da soberania de Deus quando quis revelar ao homem a sua vontade. Todos os símbolos, toda influência e dinâmica da língua e seus signos, toda movimentação de idéias se curvam ao Senhor que É.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Concordamos com Paul Tillich quando diz que “a grandeza do Novo Testamento consiste em ter sido capaz de usar palavras, conceitos e símbolos surgidos na história das religiões, preservando ao mesmo tempo a pessoa de Jesus interpretada por essas categorias” (TILLICH, 2007, p.37). Nossa conclusão é que na preparação do evangelho, símbolos e ideologias da cultura helenístico-romana foram ingredientes necessários para que Deus em sua soberania trouxesse ao mundo sua maior revelação: Jesus Cristo e o Seu Reino. Discutem-se as origens do gnosticismo: uma helenização do cristianismo, ou umahelenização do judaísmo e de suas tradições a cerca da sabedoria” (BROWN, 2004, p.163), porém foram detectadas semelhanças entre João e o gnosticismo, por exemplo, no tema joanino da não-pertença a este mundo no capítulo 15.18-26 e capítulos 16, porém não podemos afirma que estas semelhanças no texto são de fato elementos gnóstico. Nem tampouco temos competência para fazer de qualquer parte do texto de João um espelho do neoplatonismo ou dizer que o dualismo existente (e há) no texto é um tentáculo desta escola.  Ainda assim atrevemo-nos a perceber que há no texto uma tendência da parte de Deus em tirar o homem do estado de sofrimento do corpo e da alma, também há uma preocupação da parte de Jesus para com os discípulos com relação ao mal existente neste mundo, a saber o príncipe deste mundo, além de haver em João uma teologia que se preocupa com o futuro do homem junto a Deus. Este Artigo, abre a possibilidade de investigação mais profunda a respeito destas semelhanças e das possibilidades de visualizações de elementos filosóficos na teologia joanina.

 

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABNT. NBR 6022: informação e documentação: artigo em publicação periódica científica impressa: apresentação. Rio de Janeiro, 2003.

BÍBLIA DE JERUSALÉM: Nova edição revista e ampliada. Tradução de Calisto Vendrame. São Paulo: Editora Paulus, 2008.

BLOMBERG, Craig L. Trad. Sueli da Silva Saraiva. Jesus e os evangelhos: uma introdução ao estudo dos quatro evangelhos. São Paulo: Vida Nova, 2009.

BOFF, Leonardo. A ressurreição de Cristo, a nossa ressurreição na morte: a dimensão antropológica da esperança humana. Petrópolis, RJ: Vozes, 1973.

CHAMPLIN, Russel N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Editora Hagnos, 2009.

COMBLIN, José. Antropologia Cristã. Petrópolis, RJ: Vozes, 1985.

CROSSAN, John Dominic. O Jesus Histórico: A vida de um camponês judeu do mediterrâneo. São Paulo: Paulinas, 2004.

DANIEL-ROPS, Henri. A vida diária nos tempos de Jesus. 3 ed. Tradução de Neyd Siqueira. São Paulo: Editora Vida Nova, 2009.

JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus: de Abraão à queda de Jerusalém. 8 ed. Tradução de Vicente Pedroso. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

LOHSE, Eduard. Contexto e ambiente do Novo Testamento. 2 ed. Tradução de Hans Jörg Witter. São Paulo: Paulinas, 2000.                                      

MARSHALL, I. Howard. Teologia do Novo Testamento: diversos testemunhos, um só evangelho. Trad. Sueli da  Silva Saraiva e Marisa K.A de S. Lopes. São Paulo: Vida Nova, 2007.

NORMATIZAÇÃO E APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS CIENTÍFICOS E ACADÊMICOS. Vitória, ES:UFES/Biblioteca Central, 2006. p. 74.

NORMATIZAÇÃO DE REFERÊNCIAS: NBR 6023:2002. Vitória, ES: UFES/ Biblioteca Central, 2006. p. 63.

ROSA, Wanderley. O dualismo na teologia cristã: A deformação da antropologia bíblica e suas conseqüências. São Paulo: Fonte Editorial, 2010.

TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. São Paulo: Editora Aste, 2007.

NOTAS

[2]Wanderley Lima Moreira é aluno do 7º período do Curso Superior Livre de Teologia no Centro de Educação Teológica Batista do Espírito Santo e Licenciando em Letras pelo IFES. É formado em Administração pela Faculdade Estácio de Sá.

[3]O modelo de artigo utilizado é baseado nas normas da ABNT, seguindo a NBR 6022, 2003.

[4] Eduard Lohse nasceu em Hamburgo, Alemanha em 1924, é um dos biblistas mais renomados. Foi professor do Novo Testamento na Universidade de Gotinga e bispo da Igreja Luterana de Hanover.

[5] Henri Daniel-Rops (1901-1965) foi historiador francês e diretor da revista parisiense Ecclesia. Tornou-se mundialmente conhecido pelos onze tomos de História da Igreja de Cristo.

[6] John Dominic Crossan nasceu na Irlanda em 1934, historiador do cristianismo primitivo , pesquisador do Novo Testamento e padre católico. Figura importante nos campos da antropologia do Mediterrâneo e do Novo Testamento.

[7] Flávio Josefo viveu entre o ano 37 e 103 d.C. Lutando contra a ocupação romana na palestina, foi capturado pelo exército romano no cerco à rebelião judaica do ano 70 d.C. Tornou-se famoso como historiador por registrar a longa história do povo judeu e de outros povos da antiguidade.

[8] I Macabeus 12.6; 2 Macabeus 1.10; 4.44. 11,27 (Bíblia de Jerusalém, p. 752-789)

[9]  João 16.5-11 (Bíblia de Jerusalém)

[10]  Tradução de Parakletos pela Bíblia de Jerusalém é apenas uma transliteração. Utilizaremos aqui significando Advogado.

[11]  João 16.28 (Bíblia de Jerusalém)

[12]  João 16.30 (Ibdem)

[13]  João 16.29 (Ibdem)

[14] João 14.20 (Bíblia de Jerusalém)

[15] João 14.17 (Bíblia de Jerusalém, p. 1880)

[16] João 15.19 (Ibdem, p. 1883)

[17] (Ibid, p. 1883)

[18] João 14.3; 16.28 (bíblia de Jerusalém, p. 1879;1886)

[19] João 14.17 (Ibid, p.1880)

[20] João 14.27 (Ibid, p.1880)

[21] João 14.30 (Ibid, p.1880)

[22] João 16.11 (Ibid, p.1884)

[23] João 16.33 (Ibid, p.1886)