VIVER É COEXISTIR

17/02/2012 11:57

Dizer a frase sou cristão é fácil, e por isso sinto que estou tentado a dizê-la sem nenhuma sombra de dúvida. Este pode ser o início de mais uma conversa sobre religião e esse é um apelo que não tenho como fugir, haja vista que, falar dela faz parte do modismo etinerante que circula de seus equivocos a sua importância. No sentido existencial, "viver é coexistir"1 como diz Karl Jasper e também Gabriel Marcel - este com palavras de caráter mais simplista. Se precisamos existir como cristãos, se é que o somos, precisamos fazer este exisitir. Logo, não há espaços para sentimento de Deus (seja o deus americanizado ou mesmo europeu). Deus não traz divisas territoriais, mesmo quando a religião o torna bairrista. É bem verdade que a religião colocano pescoço divno o crachá institucional. Ele não pode ser imaginado, por quem quer que seja (doutor, mago, pastor, profeta ou apostolo) como um ser apenas transcendente que está formatado nos moldes da cultura de um país. Todo povo ao imaginar ou sentir o seu Deus, deve e pode fazê-lo, mas, não pode obrigar o outro submeter-se com a alegação de que Deus é cristão ou destes. O cristianismo não detém a ficha dele em seu departamento pessoal, logo, ele não trabalha apenas para cristãos. Não é um discurso contra as missões (apesar de haver nelas muita injustiça) é o grito por liberdade de expressão.

Existir é fazer imanente em nós aquele que não é imanente, e é (!!??). Compreender que se algum momento ele exigiu obediência, mas em outros criticou as normas de obediência - tudo em nome da liberdade. Existir é abraçar o diferente de forma que brancos e negros, homens e mulheres, cristãos e ateus apresentem na força do abraço o trabalho da existência. Viver é deixar de lado qualquer discurso separatista e qualquer prática que marginaliza o individuo pela diferença. Ver no outro o sentido da vida é abrir os olhos para enxergar o próprio ser existente, dizendo assim, "no ser existente que se relaciona ele próprio com seu ser"2. Por isso sentimos saudade, esta é a personificação de um entrelaçamento comunitário quando nossa existentência se confunde com a existência alheia. Desta forma não há espaço para o aprisionanameto e da marginalização do outro, algo que abre no sentimento das idéias antigas, colocando limites no ser. Para essse tipo de cristianismo a imanencia de Deus está mumificada numa declaração de idéias que o aprisionam em troca de interesses próprios. Desta forma, existe dentro de muitos indivíduos lugares onde a vida não tem dinasmo, onde colocamos - cada um de nós - o nosso cristianismo na pauta que nos interessa, para ganharmos a guerra que precisamos ganhar, e conquistar o que queremos conquistar, e o fazemos conscientes de que a existência que temos pode ser mudada. Desta forma, a liberdade tem cheiro de culpa também, porque sabemos que podemos existir todos os dias, e a cada dia de forma dieferente apegando-se a fé do livro de Hebreus, que não é, como diria Jasper, cognoscível, uma fé que não aceita roupa rótulos por circular no mundo das idéias e no existir, onde estiver o homem, onde estiver a situação, ali, Deus quer tornar-se imanente, mas sem gesso, sem tortura, sem padroes, sem deixar niguém em vantagem em detrimento do outro, vivendo e convivendo. Coexistindo, cristianismo.

 

"O confronto com Deus, com sua vontade e sua graça vai conscientizar o ser humano"3, vai traze-lo a si, entorno do total ao qual é parte, mas também partícula, fazendo desta totalidade que o abrange e ao mesmo tempo o exclui, seu mundo, e mundo alheio.   Para Karl Jasper, toda vez que o indivíduo enxerga a realidade abrangente, aproxima-se de fato da transcendência, mas esta realidade não pode ser confundida com o deus caracterizado pelo sistema religioso, pois este sempre se mostrará como autoritário, dogmatizado e de certa forma, categorizado. O conhecimento desta realidade não "esgota o Ser enquanto realidade abrangente"4, uma vez que esta não pode ser absorvida. Assim, Deus se mantém num "estado" de aproximação, mas também de ruptura existencial:

No desaparece el Dios uno cando se le niega su identificación con lo uno de una realidad mundana? Se dice: el hombre sólo puede creer cuando "realiza" el objeto de su fe. Un Dios que no se torne uno, en el sentido de una realidad sensible, es para el hombre como si no fuera en absoluto: no pude ser creído y no se cree en él. (JASPER, 1968, p. 225)

 

Podemos, assim pensar que, toda forma de opressão tem nascedouro principalmente na ausencia da vida comunitária, no individualismo silencisamente pregada por tudo o que isola o homem, pintando deus monstruoso, ditador e implacável, capaz de categorizar bandeiras divinizadas em nome de idéias, em nome do "sentir" que o deus de um está mais certo do que o deus do outro (mas esta é uma discussão o Uno de Karl Jasper e Heidegger), um pouco indigesto, mas desafiador, por que enquanto em Jasper o sentido do ser é a transcendência, que não tem conteúdo, na unidade da realidade abrangente, para Heidegger, o sentido do ser é o tempo. O problema está na dogmatização pressuposta no "sentimento" (digo, principalmente os dogmas importados - que são mais caros), e que não respeita nenhuma unidade racional e nenhuma forma de pensar (não deixando emegir a existência), por que já disse o que há de ser: e é implacável, cruel e sacra porque dá lucro.


Referências Bibliográficas

1 JASPER, Karl. La Fé Filosófica ante la Revelación. Trad. de Gonzalo Diaz y Diaz. Madrid: Editorial Gredos, 1968.

2 SARTRE, Jean-Paul. Esboço para uma teoria das emoções. Trad. Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 2011.

3 BRAKEMEIER, Gottfried. O ser humano em busca de identidade: contribuições para uma antropologia teológica. 2ª Ed. São Leopoldo: Sinodal, 2002.

4 JASPER, Karl. Filsofia da Existência. Trad. de Marco Aurélio de Moura Matos. Rio de Janeiro: Imago, 1973.